sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O CIÚME VEM DA FALTA DE ELOGIO E DE JURAS


A insegurança vem da escassez de elogio no relacionamento. O medo de perder alguém decorre da ausência de reconhecimento. O ciúme é a falta de clareza de quanto é importante e insubstituível para o outro. Você enfrenta um processo de desvalia em que seu par cobra e reclama e implica e não verbaliza suas virtudes. Você não se enxerga amado e identifica qualquer um que se aproxima como ameaça. Há um rebaixamento, proposital ou involuntário, que acaba com seu amor próprio e criminaliza sua carência. Não é chamado de gostoso, seu desempenho na cama não é destacado, não vive uma aura de singularidade no casamento ou namoro. Sua sensibilidade e dedicação não são agradecidas. Se frequenta uma balada, a sensação é que não dança direito. Se janta em um restaurante, a sensação é que não se comporta direito.

É sempre questionado e criticado, mesmo quando age distraído. Parece que está devendo, existe uma reticência que não entrega o quanto é fundamental, o quanto foi escolhido.

Tanto o passado dela como o futuro surgem como quadros mais completos e promissores do que o presente que participa. Ela sugere que se divertia mais ou que era mais irreverente antigamente.

Você vai se encolhendo, esperando o pior, encurralado na sina de não ser o ideal, porém um esboço passageiro e um entretenimento pontual. É mais um, não é definido como o único.

Tem receio do que ela tenha vivido ou possa viver, capaz de evidenciar o contraste.

Ela não isola os momentos de vocês como os mais felizes, e sim recorda com freqüência o quanto foi livre e correspondida em carnavais anteriores.

O cotidiano a dois é tratado como automático, comum, normal, rasteiro, não importando a festa que faça, em contraposição desigual do jeito sublime que ela recorda dos seus antecedentes de solteira.

O rebaixamento da atual troca amorosa é um pretexto para a crise. A permanente insatisfação dela gera a queda irreversível de seu ego.

Pois sofre com uma desvantagem moral por dentro, derrotado na vaidade, implicitamente subjugado.

O ciúme é o medo da comparação, é o medo do resultado já que se entende diariamente avaliado e abaixo das expectativas.

Com exceção da perseguição patológica e da projeção dos próprios erros, o ciúme é a revolta por não se perceber valorizado. A pessoa ataca por se sentir atacada, julga por se sentir julgada, cria teses paranóicas porque nada é dito com objetividade. Não se projeta como indispensável, mas provisória e sujeita a rompimentos diante de ofertas mais generosas do destino.

O amor precisa falar, deve falar, portanto não poupe agradecimentos e juras durante a convivência. O casal jamais pode perder a exclusividade romântica, de que estão juntos por um encontro inspirado e que não há chance para terceiros ou divergências: ele é o homem de sua vida e ela é a mulher de sua vida.

Desentendimentos virão sem abalar esta certeza.

Se é uma ilusão, ainda é a melhor e duradoura. É uma ilusão a dois, muito superior ao ciúme, que é uma ilusão triste e solitária, feita do recalque de não ser admirado por quem mais ama.
 FABRÍCIO CARPINEJAR 

Texto original
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