domingo, 4 de abril de 2010

corpo que já tem história



Há uma serenidade nos seus gestos,
 longe dos desperdícios da adolescência,
quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente.
A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo
e vai florescendo estabanada.
É como um nadador principiante, faz muito barulho,
joga muita água para os lados. Enfim, desborda.
A mulher madura é assim: tem algo de orquídea
que brota exclusiva de um tronco, inteira.
Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.

A mulher madura tem um som de adágio em suas formas.
E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo
 e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.

 Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha
 para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos.
Por isto As suas mãos são líricas no drama
e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.
O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história.
Inscrições se fizeram em sua superfície.
Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade.
Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens,
decodifica ...
A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia.

Affonso Romano de Sant'Anna

Um comentário:

  1. Que lindo texto, Mulher madura, é exatamente isso.
    Obrigada por torna-se seguidora do Tempo, passo a te seguir também.
    Beijos!

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